Ninguém me avisou

As pessoas falam e metem-se na vida dos outros, é inevitável. Seja por curiosidade, maldade ou simples aborrecimento em relação à sua. Engravidar não estava nos meus planos, e isso não é segredo nenhum; prefiro manter-me aberta a diálogo para quem tiver de passar pela mesma experiência do que fingir que o mundo é cor-de-rosa só para iludir os demais. Entretanto aprendi que uma barriga redonda atrai comentadores indesejados, desenvolve competências para espantar moscas e ensina a dominar a arte do “sorriso amarelo”.

Antes havia os que me criticavam por não demonstrar interesse em ter filhos, insistindo que “devia pensar nisso antes dos 30”, que “faz parte da vida”. Depois de engravidar chegaram os profetas da desgraça, vendendo a convicção de que “se acabou a boa vida”. A esses foram-se somando outros, como os ocasionais patriotas (“ai que horror, e o bebé não vai aprender português!?”) ou os aspirantes a balanças (“ainda não engordaste nada, mas espera que vais ver o que é bom!”). Os meus favoritos são os comentadores da barriga, sempre alerta! Acreditem, em 2018 vi de tudo, graças à minha gravidez.

Falaram-me dos enjoos, de engordar, do cansaço, das estrias… Falaram-me do parto e das dores, das cesarianas e da recuperação… Falaram-me de que ter um filho muda tudo, das rotinas assustadoras. Avisaram-me que a minha vida nunca mais seria a mesma (repetidas vezes). Ouvi umas 500 histórias de terror, e talvez umas 50 de amor. Pelo meio, os bem-intencionados prevaleceram sempre. A eles ficarei eternamente grata, pelas longas e ricas conversas e todo o apoio que me deram (e dão)!

Mas entre tanta coisa… Ninguém me avisou. Não realmente. Ninguém me conseguiu preparar para as noites de insónia, para os momentos de pânico em que não sei se estou a fazer o melhor por Ti, para a súbita e irrevogável mudança que ocorreu no meu mundo… muito antes de Tu nasceres. Para todo este amor e protecção que eu não sei de onde vem nem para onde vai.

Ninguém me disse que, no meio de mais uma noite de exaustão em que não encontro posição para dormir, Tu decidirias virar-te na minha barriga… fazendo-me sentir a pequena extensão das tuas costas e o teu rabinho, claramente, pela primeira vez. Um pequeno Humano dentro de mim, na mesma luta em que eu estava cá fora; viraste-te para a esquerda e depois mudaste de ideias e voltaste para a direita, antes de te voltares a aconchegar. Ninguém me avisou que agora a minha vida é feita destes sorrisos, destes segredos entre nós. Se alguém me perguntar sobre a gravidez, no futuro, espero lembrar-me disto!

2018 foi um ano estranho. Comecei com a viagem à Tailândia, a qual amei e me encheu de ideias para tantas mais… Escolhi trabalhar muito durante o verão para amealhar dinheiro, no intuito de concretizar desejos que agora estão na lista de espera. Em vez disso, apareceste Tu. Acabei este verão exausta, por ter conciliado tanto trabalho com a tua aparição, pelo peso do segredo que tinha cá dentro. Por Tua causa estou aqui a escrever isto, em vez de andar de mochila às costas por aí algures. Custa-me, e tenho medo de ter perdido isso, mas não estou infeliz. Pelo contrário, ganhei um novo sorriso! (E esta, ahm?)

De todas as casualidades do mundo e de todas as pessoas a quem isto acontece, pelo menos tenho por garantido que Tu és fruto de amor verdadeiro.

Por isso deixo a questão, para ti e para mim… Se me tivessem avisado… que faria eu com isso?

Que 2019 seja um ano ainda melhor. Apontamos sempre para melhor. O meu único desejo é que tenha a força e coragem necessárias para te trazer ao mundo, são e salvo.
O resto, logo veremos.

E para o leitor, desse lado, Boas Entradas 🙂
PS: Com este artigo inauguro uma nova rúbrica no blogue – Janelinha Pop-up – sobre o Cotãozinho… claro está. Encontram-na no menu ali em cima.

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